A cidadania exercida pelos brasileiros na Rússia tornou-se tema de debate internacional. Brincadeiras, que fogem do bom senso, desnudaram a falta de compromisso com a ética e revela mais uma vez a natureza cultural que o povo brasileiro carrega em seu caráter como comunidade.
Porém, como correr contra a maré e usar estes episódios para construir a educação cidadã? Basta punir? Será que a punição deve ser o ponto fulcro de uma necessidade de resposta diante do comportamento vexatório? O que fazer para projetar evolução diante destes casos?
Vale lembrar que há ocorrências de abusos feitos por homens que não são brasileiros em outros episódios. No entanto, tal como falamos a nossos filhos, não é porque o outro faz que você tem o direito de repetir a besteira.
O problema é de quem? No vídeo acima é perceptível o abuso. Atitudes como essas são algo que extrapolam inclusive o abuso cultural. Isso porque atribuir ao machismo e a misogenia da nossa sociedade parece um discurso brando. Os episódios são o espelho de uma falha educacional de uma geração que deveria ser o progresso e não o retrocesso. Não há justificativas para a falha moral e ética destes indivíduos que não sofrem com falta de dinheiro ou
Questões como essas são importantes para aprender como nação a não produzir mais tais comportamentos. Mesmo que a individualidade sobrepuja a coletividade dentro do estado de direito, o nosso país precisa desenvolver mais responsabilidade naturalista, principalmente nos dias de hoje cujas exigências o Brasil exige de seus representantes públicos.
Fazer a lição de casa está longe de ser fator de diferenciação no campo da cidadania. Assim como é obrigação a honestidade, o cidadão deve ser também ético como princípio de sua moralidade individual. Matar e roubar são princípios inquestionáveis combatidos por todos. Tanto que não há civilização no mundo que chancele estas ações como liberdades individuais. Por que estão a ética deve ficar de fora deste prisma?
Falta de ética é um valor subjetivo diferente do ato de matar e roubar. Isso porque estas duas ações não são subjetivas. Mas ao comparar ética com as ações condenatórias faz a reflexão ser mais explícita, porém, não menos importante. Sem ética, não há pertencimento em grupo. A falta de ética é a imposição da vontade humana a qualquer custo, inclusive à própria vida, apesar de naturalmente ser o freio mais evidente nesta concepção como instinto de sobrevivência.
Ética é um conceito tão complexo aos indivíduos que se torna uma ideia intangível para muitos. E essa evidente falta de entendimento sobre a aplicação prática só é revelada quando vinculado à ações realizadas. Neste aspecto, o que precisa ser desenvolvido nos cidadãos brasileiros é a moralidade, pois isso determina a habilidade de ser ético.
Vemos muito a ética ser objeto de estudo filosófico em cursos da academia. Formações profissionais sempre trazem na grade de conteúdo a ética como matéria de formação humana. Portanto, deveríamos estar pautados pela natural responsabilidade de ser ético. Será que isso é a nossa realidade como comunidade?
Antes de discutir ética, precisamos resgatar o desenvolvimento da moralidade, abandonada ao longo dos anos em minha percepção. Afinal de contas, por que não se fala de moralidade na educação fundamental? Provavelmente, porque não está embasada por princípios didáticos dos planos de cursos.
A Copa do Mundo de 2014 foi bastante importante para o brasileiro. O contato que tivemos com um povo relativamente maluco não foi apontado como exemplo de cidadania, mas ação de ingenuidade. Quer saber qual? Os japoneses que viram aos estádios brasileiros, limpavam o próprio estádio como se fossem donos da casa. Eles varriam, juntavam e separavam seus lixos e depois fechavam os sacos organizados em cores.
Como os japoneses saíam na mídia? Era um povo exótico! E não aprendemos nada. Continuamos a repetir as mesmas idiotices cívicas sempre dando ao outro a responsabilidade que deveria ser do próprio indivíduo.
Quatro anos se passaram e os brasileiros ficam chocados com as atitudes de turistas que viajaram para a Rússia e fazem brincadeiras pouco responsáveis e atrasadas. Nem os trotes universitários com suas infantis brincadeiras estão tolerando o desrespeito entre pessoas diferentes do espectro de padrão idealizado por outro indivíduo. Fazer chacota com o outro sem a responsabilidade devida é demonstrar a falta de ética além da brincadeira. E essa base de valores vem da moralidade.
Falta de ética é consequência da falta de moralidade?
Não acredito que exista a falta de moralidade nos indivíduos. Se ele é um humano, tem moralidade. No entanto, esta moralidade pode não valorizar o que eu valorizo enquanto cidadão. Por isso, entender a falta de ética como falta de moralidade pode ser uma reflexão que não encontre um viés lógico. A moralidade é aquilo que está dentro do indivíduo. Ela que cria empatia com os outros e com os planos de ambição da pessoa. Pela moralidade que o indivíduo cria expectativas para si e para os outros. E esta moralidade projeta seus valores na ética, ou seja, aquilo que é criado como valor perante a sociedade. Entendo que discutir ética está na nossa habilidade de estabelecer combinados. O que pode e o que não pode perante a coletividade.
Por que a punição é a única forma de se estabelecer consequência sobre o ato anti-ético? Faço essa reflexão entendendo a relevância das ocorrências que são registradas e postadas em redes sociais como se fossem brincadeiras. Só o fato disso ser compartilhado em vídeos, que registram os atos como festa, farra ou brincadeira; já aponta a inconsequente ignorância que pontua o debate.
O que falta, diante a consciência coletiva, é a inabilidade de exercer a cidadania de forma responsável por parte dos brasileiros protagonistas destes eventos inconsequentes.
O que devemos é para com a sede de sangue para enfrentar o problema, desde sua raiz. Falta de ética reverbera diante uma falta de moralidade construída para privilegiar os valores propostos pela comunidade. Moralidade está além dos relacionamentos entre indivíduos, pois ela estabelece os princípios individuais.
Devemos, portanto, exercitar a autocrítica, desde que tenhamos a finalidade de aprender. Obviamente, não podemos esquecer as consequências dos atos relacionados a estes eventos, pois os protagonistas precisam pagar pelos seus atos. No entanto, não deixemos de lado a oportunidade de aprender com esta questão delicada, pois o desafio está na evolução deste comportamento. Eles não representam o povo brasileiro.