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O PT não consegue criar frente política contra Bolsonaro

O PT não consegue criar frente política contra Bolsonaro
Rafael Cardoso
Oct. 16 - 5 min read
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Bolsonaro segue seu caminho fazendo exatamente aquilo que o consagrou no primeiro turno, ou seja, construindo a comunicação que explicita o pensamento do anti petismo, talvez o maior partido atualmente existente na política brasileira que agremia diversos pensamentos.

Haddad, diferente do seu oponente, acabou se tornando um camaleão, completamente acesso ao ideário promovido no primeiro turno. E essa mudança drástica de posicionamento, comunicação e temperatura de discurso, demonstra que a linha política antes de 7 de outubro foi uma construção oportunista do candidato do PT ou um acidente confuso que levou o postulante a Lula estar na segunda fase da disputa das eleições 2018.

Haddad poderia ser um vilão de Gothan City

Enquanto Bolsonaro surfa contra os prognósticos do mês passado, ao qual sempre apontavam derrota no segundo turno para qualquer outro oponente, Haddad se aproxima daquele vilão conhecido do universo de quadrinhos da DC, o Duas Caras, jogando sempre a moeda para que suas decisões sejam tomadas ao acaso, sem a responsabilidade emocional de arcar com as consequências de suas escolhas. No caso, a moeda de Haddad é a ordem que vem da sede da polícia federal em Curitiba. A moeda de Haddad, ou o chefe do postulante petista, dá o caminho para que o candidato só obedeça.

Haddad trai, portanto, toda a ideia defendida no primeiro turno, que seduziu o eleitor Lulo-petista. Essa frustração não demorará a aparecer nas pesquisas eleitorais, isso porque tão logo haja a aproximação da data de votação, as aferições começarão a se colar na expressão da realidade, muito mais tendenciosa ao candidato do PSL.

A frustrante mudança de posicionamento e comunicação da campanha petista demonstra pouca adesão dos outros candidatos que disputaram o primeiro turno e poderiam engrossar o caldo contra Bolsonaro. No entanto, tal como em outros momentos de conflito de expressão na sociedade, vale lembrar a demora dos legisladores aderirem ao movimento do impeachment de Dilma e a recente crise do abastecimento de combustíveis por conta da greve dos caminhoneiros, os políticos em geral têm medo de arriscar posicionamentos claros para não comprometer a preferência de seu eleitorado diante o espectro maior de seu campo de atuação política.

Haddad não consegue criar a frente contra Bolsonaro porque não tem o aceno de sucesso, meramente tímido, capaz de provocar a realidade de ser presidente do Brasil em 2019. Esse movimento é bastante similar ao que Geraldo Alckmin fez para criar um grupo coeso entre os partidos que foram seus aliados no primeiro turno. Não funcionou esse movimento para o PSDB porque ele foi o vetor de interpretação sobre a tradicional linha política demonizada nas eleições. Agora Haddad, novamente repetindo o equívoco dos tucanos, insiste em trazer essa perspectiva a um eleitor que já tem por natureza dificuldade em colar nas propostas mutantes do plano de governo proposto pelo PT.

Hoje em dia, os fins não justificam mais os mesmos na política

Na verdade o que Haddad está reforçando com essas mudanças na lataria de sua campanha são customizações pouco funcionais e expressivamente persuasivas a um resultado, não a um propósito.- cartilha de Maquiavel, aonde os fins justificam os meios, não é mais um pensamento tolerável pelo cidadão brasileiro, mesmo com as contradições de uma sociedade paradoxal em sua ética e moralidade. Aliás, paradoxo interessante de se discutir, mas em outro momento.

Para fechar essa análise política com cavalares doses de opinião, insisto em destacar que o mais importante neste processo está na concepção de um propósito definido. Enquanto o PT tinha um propósito claro, ou seja, sustentar a injustiça realizada contra o ex-presidente, encontrava simpatia dos saudosos simpatizantes daquele tempo de prosperidade aparente do primeiro governo Lula. Após a entrada de Haddad e a mudança radical deste discurso, a candidatura do PT perdeu a força de adesão porque deixou de defender o propósito de antes. Bolsonaro fez o inverso, pois conquista a cada dia mais adeptos sustentando seu propósito desde o início, ou seja, qual for o plano de governo cadenciado pelas suas propostas, o que aumenta seu capital político a cada dia é o propósito de sustentar sua candidatura como remédio ao medo do PT.

E engajamento se constrói com definição e sustentação de propósitos. Essa é a resposta das eleições de 2018. A lição mais importante que os políticos precisam aprender para conquistar esse novo eleitor inserido nas redes sociais e agentes da eleição que abre as portas para um novo populismo, o populismo de redes sociais.


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